A cada fase dessas etapas, para quem acredita em Deus, tem o
tempo Dele.
Embora de família humilde, foi criada com muita fartura.
Judith foi a primeira filha mulher de um casal formado por um marceneiro e por
uma dona de casa, imigrantes de portugueses e italianos.
Pele alva, olhos azuis, sempre prestativa com todos.
Quando mocinha aprendeu o ofício da costura. Produzia belos
vestidos para si, para suas duas outras irmãs e suas clientes sendo elas suas
primas e amigas.
Saiu da casa dos pais por intermédio do casamento. Teve
quatro filhos com seu esposo, um professor do grupo escolar. Foi quando
conheceu a sobrecarga de acumular trabalho de dona de casa, mãe de quatro
crianças e costureira. Era um sufoco.
Mas Deus, que cuida do ciclo da vida de cada um, enviou a
Judith um desafio. Queria a prova de até quando iria sua força física e mental.
Após vinte anos de união conjugal, veio a separação. Um baque que a levou a uma profunda depressão. Despedir-se desta vida nessa condição tão sofrida ainda não era o seu destino escolhido por Deus. Deixar para trás essa doença maldita é para pessoas fortes. Judith provou-se uma fortaleza.
Porém, é importante não esconder a poeira para baixo do tapete. Foram anos de remédios controlados fortíssimos e acompanhamento médico especializado. Quem tem depressão precisa aceitar ajuda. E a vitória vem! Veio para Judith!
O tempo passou, os filhos tornaram-se adultos e deram-lhe netos e netas. Uma delas vovó Judith ajudou a criar. Ainda era uma jovem senhora. Tinha muita disposição.
Todavia, com o avanço da idade os joelhos já não conseguiam
mais ter forças para pedalar a máquina de costura. Teve que abandonar seu
ofício.
Seu ex-marido faleceu. Era o fim definitivo de uma
história com o pai dos seus filhos. Ficou triste, é lógico. Não tem coração de aço.
A velhice chegou. Com ela veio o ganho excessivo de peso, a artrose, a catarata, a pré-diabetes, a pressão alta, e demais doenças típicas dos idosos. O corpo padecia.
Contudo, até então, seus maiores obstáculos ainda estavam por vir...
Deus apresentou a Judith um novo desafio. Na verdade, um susto. Daqueles que passa um filme sobre o que foi a sua existência. Um cansaço e uma falta de ar gigantescos. E veio a embolia pulmonar.
Judith foi socorrida a tempo por sua filha caçula e pela
neta que ajudou a criar. Três gerações unidas pela vida. Pela vida de Judith.
Foi internada às pressas, tomou oxigênio, fez fisioterapia para
fortalecer os pulmões. A vida de Judith mais uma vez estava a salvo. O Altíssimo mandou avisar que seu ciclo de existência ainda estava no prazo de validade.
Nesse momento Judith demonstrava estar apta a enfrentar
qualquer outra adversidade. Então Deus deu-lhe uma provação mais pesada e sinalizou. O Pai quis saber se a vovó venceria um câncer.
Economizando palavras para contar esta fase da história, Judith teve parte de sua mama esquerda extraída.
Não pense você que só porque a mulher está idosa que ela não
tem vaidade. Judith sempre foi vaidosa. A retirada de parte da sua mama a
incomodou bastante. Para ajudar a superar isso, fazia até piadas. Apelidou o seio apequenado de "maminha". Só que olhar para aquele pedaço que restou não era fácil.
Entretanto, mais difíceis ainda foram as sessões de radioterapia e, pelo
resto da vida, há de tomar os comprimidos equivalentes a quimioterapia.
Tinha uma certeza: iria exterminar esse mal. E assim o fez.
Os 80 anos chegaram. Seus filhos preparavam-lhe uma bela
festa de aniversário. Os convites já haviam sido entregues. A alegria
contagiava a todos com a possibilidade de rever essa bonita senhorinha dos olhos
azuis.
Mas a comemoração ficou para depois. Não se sabe quando. Um
outro dia talvez. Um outro ano, uma outra idade.
O mundo foi aterrorizado pela pandemia do corona vírus e
milhares de pessoas faleceram da nova doença covid-19. Um horror!
O medo de acontecer o mesmo com Judith era gigantesco,
afinal mal saíra de um tratamento de câncer e agora essa tragédia
interplanetária.
Porém, seguindo as instruções de sua filha e de sua neta,
ela se cuidou, se isolou, ficou quietinha em casa até que vacinas fossem desenvolvidas e aplicadas na população.
Tomou três doses, conforme recomendação das autoridades
públicas.
E assim, voltou a saracotear por aí. Agora é só alegria!
Quer fazer um cruzeiro marítimo, conhecer a Itália, ir no sul do Brasil. Deseja conhecer lugares bonitos.
Quer frequentar bons restaurantes, comer comida requintada,
tomar um bom vinho. Se deixar, vai numa pizzaria todos os dias.
Quer estar junto aos filhos, mimar os netos.
Seu raciocínio ainda está jovem.
Judith quer viver!
Quer estender o ciclo da vida.
E enquanto Deus assim a permitir, que a vovozinha viva intensamente!